quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dançando a vida


Retirando a poeira das sapatilhas. Olhando por cima, aquela imensa alegria. Parece sonho, parece verdade. E é verdade! Parece que faz anos. Em volta, as roupas. Todas guardadas, o véu amassado... A espera do resultado do vestibular. A ansiedade, o nervosismo... É assim que me encontro. Mas respiro fundo, sinto minha respiração se acalmar, pego minhas sapatilhas e vou!

A vida é como a dança. Em nossas andanças e mudanças, qualquer lugar vira palco! E o show começa assim, de repente, sem mais nem menos, no instante agora. O improviso é contínuo. Há giros, saltos, técnica, emoção! Todavia, há, também, tropeços, desequilíbrios, esquecimentos e, algumas vezes, decepção...

Ontem foi como num truque de mágica! Entrei na sala, vi todas ali, sentadas. Ainda continuavam lá, no cantinho delas. A mestra também se encontrava lá, sentada em seu canto, fazendo a chamada. Fui até ela, que incluiu meu nome na lista. Dei uma volta na sala e vi que o espelho continua lá, do mesmo jeito que antes. As cortinas da mesma cor, os focos de luzes coloridos (nenhuma lâmpada queimada).

Os olhinhos redondos quase que lacrimejavam ao ouvir o toque marcante do sax, o som doce da flauta e a vibração forte do alaúde. O tilintar das moedas dos lenços, a contagem da mestra: 7, 8 e gira! Os holofotes alternando suas cores. Todas as bailarinas no mesmo ritmo, quer dizer, quase na mesma sintonia. E o sorriso estampado na face, contornava-se de uma orelha a outra, como se não coubesse dentro de mim...

O improviso! Como a mestra gosta de ver cada parte de nós se desvendar na dança. De olhos fechados, a melodia da música me puxava, quase que me arrastando para onde ela queria ir e meu corpo simplesmente obedecia à risca, como se fosse um pecado mortal desviar o caminho que aquela melodia me levava. E assim foi. Minhas mãos em movimentos aveludados entravam em sintonia com cada movimento sinuoso que saía de meu ventre...

E a vida se segue. A gente dança, vive, sonha, improvisa e a gente cresce, cooomo cresce! Mas eu continuo a dançar, pois a dança alegra a minha alma, eleva meu espírito e dá vida ao meu corpo. E a vida me dita o ritmo. Ele oscila. Ele vai, volta, brinca comigo, me engana... Ainda, assim, eu sigo o compasso! Eu o busco sempre. E, enquanto houver vida, há música e há dança!


Por vezes danço rápido, no ritmo de uma moderna, brincando de dançar, repleta de alegria dentro de mim. Outras, porém, danço na meia ponta, em alta concentração, postura impecável. Enquanto que em muitas outras, danço sozinha, entre quatro paredes, na companhia de mim mesma, sentindo a minha própria energia se exalar, como num desabafo, numa conversa com um diário, num memento só meu...

A dança é uma linguagem universal, um instinto natural. Todos somos bailarinos da vida. Como cada vida tem sua história, seu personagem principal, a minha dança é só minha. Meus passos são únicos, são meus. Ninguém dança como eu. Meus movimentos são só meus, assim como os seus. Eles têm o jeito e a forma de quem os cria ou mesmo reproduz e têm o sentimento de quem os comanda, em cada momento, seja sinuoso ou acelerado, distinto.

A paz que sinto agora é de quem retorna ao lar, depois de muitos anos fora. A minha dança é a minha cara metade, é o amor que me completa, é o “outro” que me faz bem. Por isso, eu vivo, quer dizer, eu danço, sempre com o coração repleto de amor!

Por Luana Chaves (10/11/10)


domingo, 24 de outubro de 2010

Sonho de uma flauta


Nem toda palavra é
Aquilo que o dicionário diz
Nem todo pedaço de pedra
Se parece com tijolo ou com pedra de giz

Avião parece passarinho
Que não sabe bater asa
Passarinho voando longe
Parece borboleta que fugiu de casa

Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá

A gente parece formiga
Lá de cima do avião
O céu parece um chão de areia
Parece descanso pra minha oração

A nuvem parece fumaça
Tem gente que acha que ela é algodão
Algodão as vezes é doce
Mas as vezes né doce não

Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Hum... E o mundo é perfeito
Hum... E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito

Eu não pareço meu pai
Nem pareço com meu irmão
Sei que toda mãe é santa
Sei que incerteza traz inspiração

Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso

Tem riso que parece choro
Tem choro que é por alegria
Tem dia que parece noite
E a tristeza parece poesia

Tem motivo pra viver de novo
Tem o novo que quer ter motivo
Tem a sede que morre no seio
Nota que fermata quando desafino

Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
É querer saber demais
Querer saber demais

Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar

Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito...

O Teatro Mágico

sábado, 16 de outubro de 2010

Conversa de bar


Pensamentos borboleteando...

Eu só queria uma palavra, que ela me servisse de resposta. A brisa batia forte e eu ainda posso sentir o cheirinho da maresia (e a péssima textura do cabelo também!) e a areia entre meus pés e as sandálias. Ah, aquele dia foi tão bom! Apesar do conflito interno, foi muito bom. Ainda consigo ouvir o coral mudo que aqueles pombos faziam em volta dos prédios. Ninguém ouvia, ninguém reparava a dança que eles faziam, com tanta precisão (como seria possível?).

Acendendo um cigarro e tomando um café, ela sorriu para mim, ironicamente, como quem soubesse da minha necessidade, da minha imensa vontade de sair correndo mar adentro! Como saberia ela de tudo isso, sem aos menos termos trocado um “oi, tudo bem?”? Eu estava lá, sentada na guia da calçada, retirando o punhado de terra que havia ficado em meus pés. E ela ali, sentada numa mesa de bar (ou aquilo era um restaurante?).

Sem entender como e porque, aproximei-me daquela mulher. Uma mulher de cabelos negros e olhos maliciosos, que me lembrava alguém, que, naquele momento, não soube identificar quem seria. Entre o susto do impulso e a vontade em entender o porquê daquele sorriso sarcástico, prendi meu cabelo num coque e segui diretamente à mesa em que ela se encontrava. Sem nenhuma surpresa com minha atitude, a mulher desconhecida apontou uma cadeira à sua frente e fez um gesto, que se referia a mim. Sentei-me. Sem coragem de encarar aquele par de olhos maliciosos, meu olhar perdia-se entre os dedos inquietos daquele ser, que, estranhamente, me causava interesse e receio.

Naquele momento, tive pena de mim mesma, pois, pela primeira na vida, senti uma insegurança insustentável pairar sobre mim. Estava pálida! Mas não era só o sentimento de pena que me acompanhava, não. Havia algo mais. Na hora, eu não soube o que seria, mas, agora, eu tenho certeza! Havia também um misto de raiva e alegria. Sim, raiva pela minha fraqueza diante de uma desconhecida e alegria, por ter a certeza de que alguém, mesmo sendo um ser desconhecido, pudesse me surpreender, me deixar insegura, sem chão...

Passados alguns minutos de silêncio, a mulher acendeu outro cigarro e, após duas tragadas, mordeu os lábios e se apresentou:

- Meu nome é Mirella. Você não é daqui. Diga-me seu nome.

Sem pensar apenas por um segundo, um raio de coragem caiu sobre mim e prontifiquei-me a dizer, ainda trêmula:

- Lu... Luana!

A mulher riu novamente. Dessa vez, o sorriso veio com um ar de ternura. E, no fundo de seus olhos, eu vi uma paz. Era uma paz inexplicável! Havia um brilho diferente em seus olhos. E, de repente, meus lábios se abriram contra minha vontade e esboçaram um sorriso tímido, enquanto a mulher analisava meu rosto desconsertado. Enfim, tive coragem e perguntei:

- Como sabe que eu não sou daqui?

Mais um cigarro foi aceso e o café acabou por esfriar, pois a mulher já não dava mais atenção a ele (o café). Concentrou-se em seu cigarro, passou uma das mãos pelo cabelo negro e se pronunciou:

- Certas coisas não se dizem em palavras, você me deu a resposta com os olhos, antes mesmo que eu tivesse tempo para perguntar. E não é só isso que sei...

Sem entender, a curiosidade tomou conta de mim:

- O que mais pode saber, sem me conhecer? – Perguntei.

- O que te preocupa no momento, por exemplo. A sua sede de resposta. – Disse Mirella, com um ar de sabedoria.

O que seria aquela mulher, afinal? Uma vidente? Uma bruxa? Não saberia dizer. Uma ponta de desconfiança refletiu meu semblante e eu fiquei intacta, sem resposta. E a mulher continuou:

- Eu te conheço mais do que você imagina! Mais do que a mim mesma. Sabe por quê? – Perguntou a mulher, fitando-me os olhos.

Com o coração disparado e sem saber o que dizer ou fazer, não consegui mover um músculo sequer! E a desgraçada não parava:

- Sabe por que te conheço mais do que a mim mesma? Porque você sou eu! E eu sou apenas o seu eu lírico, o seu eu que fica na fronha do travesseiro! O seu eu que suporta as consequêcias de todas as suas atitudes. Eu sou o seu eu que se descobre a cada ação, por isso, não conheço-me melhor do que a ti, que é um eu fixo, que não muda, que é a essência...

Que confusão! O que Mirella estava dizendo? Quem era o eu de quem? Eu não seria uma pessoa só? Que história é essa de dois ‘eu’? Aquilo seria um delírio de identidade? Depois do chocante silêncio, Mirella se acalmou e disse, cabisbaixa e de olhos fechados:

- Está vendo essa mesa? Está vendo a você e a mim? Então, esses cigarros, não fui eu quem fumou. Esse café amargo, não fui eu quem deixou esfriar. Quem está falando com você, é você mesma. Isso que está acontecendo, é um encontro de você consigo mesma!

Num momento de desespero, desabei-me em choro! “Estou surtando, estou num momento psicótico”, foi o que pensei. Não seria possível! Sim, seria! Claro, Mirella! Era a personagem principal dos meus contos e crônicas. Sim, é verdade. Era ela mesma, a Mirella, a atriz das minhas histórias! E como isso foi acontecer? Como foi possível?

A mulher de olhos negros, como que adivinhando o que se passava pela minha cabeça naquele instante, acrescentou à sua fala:

- Esse encontro só foi possível porque você pediu uma resposta com fé, sem forma, sem nome, mas com muita fé. E agora você a tem em mãos, ou melhor, em mim, ou seja, em você mesma! As suas respostas estão sempre em você mesma, basta ter coragem para querer enxergar, de fato, suas verdades.

Como quem está caindo num sonho, eu levantei no susto! Assustada, virei uma xícara de café sobre a roupa e senti as pontas dos dedos queimarem. Apaguei a butuca de cigarro no cinzeiro de vidro e pedi a conta. De repente, senti uma estranha vontade de correr mar adentro, mas algo me impediu. Então, tirei minhas sandálias e sentei-me de frente ao mar, sentindo uma sensação boa. Fechei meus olhos e ouvi o mar sussurrando em meus ouvidos. E eu já não precisava de uma resposta. A calmaria do mar me trazia uma paz interna e, naquele dia, minhas interrogações foram embora, escorreram com as lágrimas que saltavam desesperadas dos meus olhos...

Por Luana Chaves

(16/10/10)


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Falando sobre o amor (de novo)


Pensamentos borboleteando...

O problema de sumir é que, quando a gente volta, tem que explicar o sumiço. E explicar o sumiço dá muito trabalho, você sabe. Às vezes, precisamos de um álibi, enfim. Como hoje estou um pouco cansada, podemos pular essa parte? Faz de conta que continuo sempre vindo aqui, que temos conversado sobre a vida, a faculdade, a dança, as amigas, o vizinho, os professores picaretas. Faz de conta que temos trocado confidências, que o tempo não passou, que o sorriso de hoje é o mesmo de 10 anos atrás, sem nenhuma marquinha na boca, sem nada estranho que lembre que o tempo passa. E como passa! O tempo passa muito, passa rápido, passa rindo da gente...

Meu pensamento fervilha. As idéias dão saltos mortais, estão evaporando! O coração está a mil. As emoções giram no sentido contrário (será?). E aí, eu me pergunto: Será que vou dar conta? Início de semestre, livro embaixo do braço, pessoas novas, dias diferentes e ele... Ele que ainda não saiu da minha cabeça! Parece que abriram uma porta, jogaram-no no espaço mais conflitante de mim, pregado com super bonder na parede que mais pulsa no meu coração e deixaram a chave no meu cérebro, que parece não ter acesso algum ao ele (o coração). Mas é assim mesmo. Nós somos uma família. UMA família! Nós, o início do semestre, as pessoas novas (e velhas, como não?), os conflitos, o cérebro e o coração e ele... Até ele! E todas as nossas outras coisas, nossos restos, nossos começos, meios e fins. Nós e nossas manias, nossos sucessos, nossos fracassos, nossos defeitos que ficam na fronha, nossas qualidades que fazem os olhos ter mais vida.

Eu sofri. Meu Deus! Como eu sofri com amores errados, ilusões, migalhas, coisas que achava que eram e nunca foram, paixonites enlouquecidas, vontades desesperadas. Todo mundo fala sobre o amor. As pessoas amam animais, objetos, pessoas, sorvetes, cervejas... O que era para ser “amor” tornou-se apenas uma palavra. O que era para ser um sentimento se tornou uma “coisa”. Uma simples coisa! Como podem fazer isso com o amor? Olha para mim e me explica. Mas olha mesmo, estou cansada de palavras soltas, ando sedenta por olho no olho. Estou desconfiada... O cabeleireiro novo me chama de amor. Entro na loja e a vendedora diz, sorrindo: "Oi, amada. Posso ajudar?". Não quero ser o amor de quem acabei de conhecer e entreguei meus lindos cabelos. Não quero que a vendedora me olhe e diga: "amada, essa calça ficou linda em você". Desculpe, é que tenho um profundo respeito pelas palavras.

Olhe, eu sou careta! Demorei tanto para sentir o amor. E acho que ainda não o senti... Intenso, verdadeiro! É, deve ser porque ainda não descobri o que ele, afinal de contas, é. Mas também, é lógico que a gente se engana! Alguns sentimentos se “travestem” e a gente crê que eles são amor. Depois, na hora do ‘vamos ver’, a gente descobre o que existia por baixo deles... Surpresa! Não era amor, era apenas uma confusão de sentimentos e vontades ou uma outra coisa qualquer. Não que eu esteja desmerecendo os outros sentimentos, longe de mim. Muitas emoções podem ser lindas (e são). Sentir é muito bom, mas o amor... Esse, que poucos sentem e muitos banalizam, deve ir muito mais além! Você entende? Às vezes, eu não entendo...

Eu posso dizer para você com todas as letras do alfabeto: eu-sofri-muito! E ainda sofro. Hoje acredito que talvez eu sofra porque estou constantemente me procurando. É uma busca incessante... Será que é por que dizem que a gente só encontra o amor depois de se achar? Eu estava em paz, numa vontade de ficar comigo, de ser minha amiga, de fazer dar certo essa relação difícil que existe entre nós e nós mesmos, de cuidar bem de mim, de tomar conta da minha vida do jeito certo. Então, ele apareceu. Não porque se mostrou a mim ou me seduziu, mas porque eu fui até ele. Sim, EU fui! Mostrei-me com todos os defeitos e qualidades, seduzindo aquele homem cobiçado. Não com olhares e gestos (até porque, ele nunca foi capaz de sustentar meu olhar!), mas com palavras. Não quaisquer palavras, mas as palavras que o fizeram sentir-se instigado a me decifrar.

Elas (as palavras), que me seduzem. Elas, que me envolvem. Elas, que me aproximam. Foram as palavras que me aproximaram dele. E foram elas que me conduziram até “o amor da minha vida”. Será? Por que as pessoas usam tanto esse clichê? Será mesmo que esse clichê tem verdade, tem vida? Entre uma palavra e outra, uma inquietação. Entre uma inquietação e outra, a curiosidade. Entre uma curiosidade e outra, um receio. Entre um “será” e outro, um relâmpago chamado coragem. Fui, fui com toda a vontade que tive. Ele veio (ou será que tive um delírio?). Para mim, NÓS fomos! Entre uma conversa e outra, um sentimento. Um sentimento sozinho, com sérios problemas de identidade. Um sentimento meu, só meu...

Ao que se vê, amar tem um quê de desespero, de descontrole, de coragem, de paciência, de cumplicidade, de segredo... Tem uma pitada de muitas coisas! Pra amar, tem que conhecer, se perceber. Tem que doer um pouco. Porque dói, é uma descoberta, é um se ver no outro, é um ver o outro exatamente como ele é (e, ainda assim, amar). Amar é perder o nojo, pois, amando, a gente percebe que o outro é uma pessoa (e as pessoas são sujas de vez em quando). Para amar, tem que ser inteiro. Para amar, a gente dispensa a matemática, por mais que um mais um seja dois. Para amar, o bom português basta. É só abrir o coração e boca e dizer: “eu te amo”. Será? Será que meu sentimento se resume a isso? Ou será que eu é que ainda não consegui sentir o amor?

Por Luana Chaves

(11/10/10)


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Aparências



Você não me conhece...
e pouco provável me
conhecerá.

Diga-me quem sou,
e lhe mostrarei que
está errado.

Olhe-me nos olhos
e compare-me, e verá que
Sou incomparável!

Fale-me o que vê,
e lhe provarei que
as aparências enganam...

E eu brinco com elas!


Por Luana Chaves
(2006)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mas não há...


Paixão sofrida em dor e amor que não se siga uma aleluia!

C. Lispector

segunda-feira, 12 de julho de 2010

De ontem em diante...


... serei o que sou no instante agora. Onde ontem, hoje e amanhã, são a mesma coisa. Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada são coisas distintas, separadas pelo canto de um galo velho. Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho do versículo e da profecia: Quem surgiu primeiro? O antes, o outrora, a noite ou o dia? Minha vida inteira é meu dia inteiro. Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro! Minha mochila de lanches? É minha marmita requentada em banho Maria! Minha mamadeira de leite em pó, é cerveja gelada na padaria. Meu banho no tanque? É lavar carro com mangueira. E, se antes, um pedaço de maçã, hoje quero a fruta inteira! E da fruta, tiro a polpa; da puta, tiro a roupa. Da luta, não me retiro. Me atiro do alto e que me atirem no peito. Da luta, não me retiro! Todo dia de manhã, é nostalgia das besteiras que fizemos ontem...

Por Fernando Anitelli

sábado, 10 de julho de 2010

Pedras lascivas


Rosto varonil, corpo robusto.
Entre, com ou distante,
Destaca-se e vem provocar-me
As entranhas, perturbar minha paz...

Diga-me quem és tu!
Mostra-me o que há em tua face viril!
Invada-me com teu som, tua música.
A voz amorfa do teu ser se transformará.

Teus lábios tênues reviram-me ao avesso!
Sinto cada parte de mim dissolver-se.
A pele, a expressão. Ah! Tudo envolta
Harmonicamente diante de teus olhos...

Duas pedras preciosas sinuosamente
Perdidas em encontro ao meu lascivo
Olhar a queimar-te em cada ponto que
Te compõe. Oh! Pobres, são os meus!

Vem cobrir-me com teu mistério!
Desvenda-te com gosto, leve...
Sutilmente, envolva-te em mim.
Desperta-me em teu íntimo...

Diga-me quem és tu!
Debruça-me sobre teu colo atraente!
Transforma-me em tua melodia doce,
Teu canto preferido, tua boca...

Duas pedras preciosas a adentrar meu ser,
Tímidas e lascivas...
Meu corpo, teu corpo, teus sons
Silenciosamente a revirar-me ao avesso!

Teus lábios tênues instigam-me a decifrar-te
Pela boca, pela pele, pelos olhos...
Tudo que a ti cabe!
Envolta de tudo que podes ser... Em mim!

Por Luana Chaves
(06/05/10)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Precisamos de Santos


Precisamos de Santos sem véu ou batina.
Precisamos de Santos de calças jeans e tênis.
Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos.
Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar, mas que se "lascam" na faculdade.
Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar e que saibam namorar na pureza e castidade, ou que consagrem sua castidade.
Precisamos de Santos modernos, santos do século XXI, com uma espiritualidade inserida em nosso tempo.
Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais.
Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo.
Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc man.
Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refri ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos.
Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de esporte.
Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.
Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos".

João Paulo II

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Charneca em flor


Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor, Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

F. Espanca

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Planos mirabolantes


Pensamentos borboleteando...

Não sei porque eu ainda perco tempo bolando planos mirabolantes para estar ao meio. Nesse meio. Nesse meio que não me pertence! Nem há como eu perder algo que nunca tive. Nem poderia... Pois, como poderia?? Não, não. Bobagem. Muuuita bobagem mesmo a minha...


Como poderia dar certo? Como que eu pude crer que isso daria certo? Da forma como tudo aconteceu? Dizem que tudo que começa errado, acaba errado. Nem tudo! Tenho provas de que isso não se faz verdade em tudo. Mas bem que parece ser o caso. Esse caso que me tira a paciência!


Deu. Tudo o que tinha que dar? Não sei! Nem tenho mais imaginação para prever. Nem sei se quero ter essa imaginação toda. Aliás, eu não queria mesmo! Maaas... é preciso! Liberdade. Quero aquilo de volta. Quero sentir a brisa da liberdade pairar sobre meu corpo, sentindo cada parte de mim arrepiar-se!


Eu só peço isso. Só isso tudo! Ele, lá de cima, sabe do que falo, sabe do que sinto. E Sabe do que preciso. E somente Ele vai poder mudar. Transformar tudo isso no que melhor couber a mim. Talvez, nem mudar. Apenas enxergar com clareza, o que talvez não exista...


Por Luana Chaves

(09/06/10)



segunda-feira, 17 de maio de 2010

A realidade do sonho


Pensamentos borboleteando...


Às vezes, parece de propósito! Eu que tanto sonhei uma noite inteira. Foi uma noite linda, repleta de encontros e desencontros. Mas tudo era novo, cativante... O cheiro doce da brisa de uma noite com céu estrelado! Ah, ainda posso sentir o pêlo da minha pele mexendo aos movimentos suaves que aquela brisa trazia... Você estava lindo! Vestido à vontade, com malícia no olhar e um sorriso tímido, que me instiga a cada dia mais a decifrar-te pela boca!


Por que as coisas tomam rumos tão inesperados ao que tentamos, ingenuamente, prever? Vai ver que a graça realmente encontra-se aí, nesse misto de dúvidas, medos, surpresas e incertezas. Incertezas que me arrepiam a espinha só de pensar em quais são. Não quero que você se torne o objeto principal dessa provável incerteza, que pode vir a assombrar minha paz, meu desejo de ti.


Se pudesse filmar aquele momento... Não, não posso nem pensar nessa impossível possibilidade! Mas confesso que ela seria a razão do meu inexistente bom humor matinal. Sim, teu sorriso tímido operaria esse milagre em mim...


O perfume, o toque. Tuas mãos me levaram pra perto de ti, do teu cheiro, teu colo. Quase pude sentir teu coração palpitar contra meu peito, que dilacerava ao encontro do teu calor. Mas tudo passou. E nada foi além de uma noite, uma linda noite estrelada!



Por Luana Chaves

(16/05/10)


terça-feira, 4 de maio de 2010

Couraças: ontem e hoje



Pensamentos borboleteando...


Como todo mundo sabe ou pelo menos desconfia, nós, seres humanas, temos uma capacidade inerente de adaptação. Seja qual for o tempo, ambiente ou estado de espírito e humor, adaptamo-nos conforme a necessidade pessoal ou social, individual ou coletiva. Mudamos. E as mudanças ocorrem, normalmente, de acordo com as escolhamos que fazemos, as ações que praticamos.


Agora a pouco, eu estava remexendo em materiais antigos que guardo a sete chaves. Lendo uns cadernos, deparei-me com poesias que escrevi ainda quando estava na 7ª série! Com 20 anos, senti um estranho incômodo ao decifrar páginas e páginas carregadas de lágrimas, angústia, desespero, incerteza. Era o sofrimento puro. Puro e sincero. Sentimentos de uma garotinha que havia começado a decodificar seus desejos e anseios, de forma simples e direta.

Hoje as poesias são mais densas, indiretas e nos remetem a ler as entrelinhas, enxergar a sua profundidade através do que está subentendido e não daquilo que está exposto, “escrachado”, fazendo com que as pessoas interpretem como algo banal. Será de propósito? Será que temos medo de sermos interpretados como banais? Ou será tudo isso um mistério? Uma maneira de querermos parecer, de alguma forma, mais interessantes?


A diferença básica é de que quando éramos mais jovens, tínhamos o tempo todo do mundo para sofrermos e agora pensamentos que temos muito pouco tempo para viver, aproveitar a vida, que não há espaço para o drama? Ou tudo isso tudo não tem nada de “friamente calculado”, e nos tornamos assim por pura culpa do inconsciente como forma de mecanismo de defesa contra o mundo frio e calculista em que vivemos?


Nada que eu tenha a resposta em primeira mão. Aliás, talvez nunca tenha mesmo. O fato é que não optamos, mas somos espontaneamente forçados a mudar de postura, opinião, estilo de vida, assim como o camaleão muda de cor, conforme o interesse que nos convém e/ou de acordo com aquilo que nos é imposto pela sociedade, uma vez que o homem não sobrevive isolado, mas sim em conjunto a todas as espécies, que se encontram em constantes transformações, exigindo, assim, cada vez mais mudanças de adaptação.


Jovens ou não, somos bombardeados de transformações por todos os âmbitos da vida. Cabe a cada um de nós sabermos lidar da melhor maneira possível com nossas couraças, que cada um, no íntimo, sabe exatamente quais são.



Por Luana Chaves

(04/05/10)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

'Babiranha'

Pensamentos borboleteando....


Tudo começou de uma forma tão sutil, inocente, entretanto, me cativou de um modo tão envolvente, tão pessoal. Você faz parte da minha vida, construiu parte do que sou dentro daquele ambiente onde havia tantas diferenças e indiferenças, nas quais fomos protagonistas de muitas histórias e soubemos lidar muito bem com elas. Quase que ao mesmo tempo compartilhamos risadas, decepções, confissões, festas, tristezas... Vida!

Foi sempre assim que gostamos, que vivemos! Porque pra gente, uma coisa de cada vez, é para os fracos, a gente gosta mesmo é de tudo junto e misturado! A cada dia que passa, eu tenho mais certeza da escolha que fiz quando te escolhi pra compartilhar uma amizade verdadeira. Uma amizade que ultrapassa qualquer incerteza, medo ou decepção. Porque com você, eu me sinto livre, livre pra dizer o que melhor pode cair sobre ti. Você tem um pedaço enorme aqui dentro de mim, portanto, quando você vibra, eu vibro junto.

As nossas diferenças nos completa de uma forma tão intensa, que chego a ter medo de te perder. É incrível como nosso olhar se entende e nosso abraço se completa, nas situações boas e ruins. Porque é mágico segurar sua mão e sentir que está tudo bem. Eu aprendi muito com você, com nossas experiências e presepadas. Mesmo que eu não precise dizer, saiba que sempre estarei aqui para te apoiar e te parar quando for preciso.

Tudo o que estiver ao meu alcance, farei para te deixar melhor. Sempre que precisar de ajuda, espero que não hesite em me procurar, nunca. A delicadeza do seu sorriso me traz vontade de sorrir de volta. Quando você não está presente, eu sinto sua falta. Obrigada por todos os momentos que já dividimos juntas. E eu quero mais, muito mais da gente.

Minha piranha, minha amiga. Te amo aqui e ali.. Em qualquer lugar! Seu carinho me faz muito feliz.



Em 23/04/10.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tomando Ingresia


Pensamentos borboleteando...

Palavras. Sempre foram letras que me chamaram muito a atenção. Pa-la-vra. Soa de forma estranha depois de muito tempo pronunciada. E ainda assim, agrada aos meus ouvidos.


‘Eu queria pegar a palavra com a mão’, tocar, sentir cada sílaba encadeada na outra de uma forma concreta, firme. Como se eu pudesse compactá-la, sem destruir, sem amassar. Tocar. Apenas sentir.


A sonoridade de algumas palavras não tem nada a ver com seu significado, pelo menos, pra mim. ‘Incipiente’, por exemplo. Lembra-me mais algo relacionado a vasilhas, parece até ‘recipiente’, não é? Pois é. Significa ‘iniciante’! O que tem a ver a pronúncia com o significado? Só algumas letras em comum. É, eu também acho. Pode ser que eu esteja errada, vai saber...


Defenestração! Essa é boa. Como Luis Fernando Veríssimo já havia relatado em uma de suas crônicas: ‘defenestrar – ato de jogar alguém ou alguma coisa pela janela’. Como assim? Olha que absurdo: ‘você é um defenestrado!’ Ou ainda: ‘Vou te defenestrar!’ Não, é um pecado o significado dessa palavra ser apenas o ato de jogar. Defenestração é poético demais. E até ofensivo também. É tudo, menos o simples ato de jogar.


Bem, eu venho tomando ‘ingresia’ de algumas coisas. Não entendeu? É que ‘ingresia’ significa barulho, confusão. E tomar ingresia nada mais é do que um trocadilho a essa palavra que eu acho linda! INGRESIA. Parece enjôo. Ânsia. Tomando ‘ingresia’. ‘Tomando abuso’! É isso. Venho enjoando, abusando. Enfim, tomando ingresia...


Por Luana Chaves (05/04/10)