quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dançando a vida


Retirando a poeira das sapatilhas. Olhando por cima, aquela imensa alegria. Parece sonho, parece verdade. E é verdade! Parece que faz anos. Em volta, as roupas. Todas guardadas, o véu amassado... A espera do resultado do vestibular. A ansiedade, o nervosismo... É assim que me encontro. Mas respiro fundo, sinto minha respiração se acalmar, pego minhas sapatilhas e vou!

A vida é como a dança. Em nossas andanças e mudanças, qualquer lugar vira palco! E o show começa assim, de repente, sem mais nem menos, no instante agora. O improviso é contínuo. Há giros, saltos, técnica, emoção! Todavia, há, também, tropeços, desequilíbrios, esquecimentos e, algumas vezes, decepção...

Ontem foi como num truque de mágica! Entrei na sala, vi todas ali, sentadas. Ainda continuavam lá, no cantinho delas. A mestra também se encontrava lá, sentada em seu canto, fazendo a chamada. Fui até ela, que incluiu meu nome na lista. Dei uma volta na sala e vi que o espelho continua lá, do mesmo jeito que antes. As cortinas da mesma cor, os focos de luzes coloridos (nenhuma lâmpada queimada).

Os olhinhos redondos quase que lacrimejavam ao ouvir o toque marcante do sax, o som doce da flauta e a vibração forte do alaúde. O tilintar das moedas dos lenços, a contagem da mestra: 7, 8 e gira! Os holofotes alternando suas cores. Todas as bailarinas no mesmo ritmo, quer dizer, quase na mesma sintonia. E o sorriso estampado na face, contornava-se de uma orelha a outra, como se não coubesse dentro de mim...

O improviso! Como a mestra gosta de ver cada parte de nós se desvendar na dança. De olhos fechados, a melodia da música me puxava, quase que me arrastando para onde ela queria ir e meu corpo simplesmente obedecia à risca, como se fosse um pecado mortal desviar o caminho que aquela melodia me levava. E assim foi. Minhas mãos em movimentos aveludados entravam em sintonia com cada movimento sinuoso que saía de meu ventre...

E a vida se segue. A gente dança, vive, sonha, improvisa e a gente cresce, cooomo cresce! Mas eu continuo a dançar, pois a dança alegra a minha alma, eleva meu espírito e dá vida ao meu corpo. E a vida me dita o ritmo. Ele oscila. Ele vai, volta, brinca comigo, me engana... Ainda, assim, eu sigo o compasso! Eu o busco sempre. E, enquanto houver vida, há música e há dança!


Por vezes danço rápido, no ritmo de uma moderna, brincando de dançar, repleta de alegria dentro de mim. Outras, porém, danço na meia ponta, em alta concentração, postura impecável. Enquanto que em muitas outras, danço sozinha, entre quatro paredes, na companhia de mim mesma, sentindo a minha própria energia se exalar, como num desabafo, numa conversa com um diário, num memento só meu...

A dança é uma linguagem universal, um instinto natural. Todos somos bailarinos da vida. Como cada vida tem sua história, seu personagem principal, a minha dança é só minha. Meus passos são únicos, são meus. Ninguém dança como eu. Meus movimentos são só meus, assim como os seus. Eles têm o jeito e a forma de quem os cria ou mesmo reproduz e têm o sentimento de quem os comanda, em cada momento, seja sinuoso ou acelerado, distinto.

A paz que sinto agora é de quem retorna ao lar, depois de muitos anos fora. A minha dança é a minha cara metade, é o amor que me completa, é o “outro” que me faz bem. Por isso, eu vivo, quer dizer, eu danço, sempre com o coração repleto de amor!

Por Luana Chaves (10/11/10)