segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cabana de sentimentos





Pensamentos borboleteando...

Como numa visita a uma cabana abandonada em meio a um bosque... Não sei se você ou alguém presenciou aquele momento que possa concordar comigo, mas, o caminho de chegada era muito bonito, me encantava a cada passo dado. Havia muito verde. Eu sentia um cheiro muito forte de vida. Uma vida que não se equiparava à minha, vida que se mantinha longe de mim, longe daquilo que eu gostaria de vivenciar de vez em quando... A trilha sonora era sensacional! Tantos cantos diferentes... Um som agudo, outro mais grade, uma dupla, um trio, um canto solitário. Aqueles bichinhos, tão exóticos, compunham uma canção que eu jamais poderia reproduzir a sons humanos.
Aquela canção era tão bela, tão marcante, tão intensa, que me fez esperar por muito tempo até que, então, eu tomasse coragem e adentrasse aquela cabana, aquele lugar frio, aquele centro de atenções, que guardava a sete chaves sentimentos que eu jamais poderia traduzir agora... Somente elas, aquelas palavras ditas no momento, no tempo de acontecimento, é que podem traduzir, dizer o que foi dito, o que foi sufocado, o que foi silenciado, o que foi sentido, o que eu vivi...
Minha respiração era quase que ofegante, sentia meu coração disparar, como quem acaba de desacelerar uma corrida em passos largos. Meus olhos fitaram aquela paisagem, congelaram aquela cena tão emocionante... Porém, o cheiro forte de madeira molhada me deixou enjoada, trazia-me uma sensação de ânsia, uma mistura de sensações, na qual eu não sabia se gritava, se chorava, se colocava tudo pra fora... Sustentei. Respirei fundo, fechei os olhos, apoiei-me numa lasca de tronco que se encontrava amarrada próximo à entrada da casa abandonada, imitando uma pilastra mal acabada. Quando percebi que já podia me sustentar sem aquele apoio rústico, pouco seguro, esfreguei meus olhos, soltei um suspiro prolongado e segui em direção à porta.
Quando fiquei defronte à entrada daquela casa, daquele lar abandonado, senti uma ponta de insegurança pairar sobre mim. Naquele momento, senti meu passado se aproximando, quase que me puxando no tempo. E, de repente, senti meu presente se distorcer. Como se o fato de eu adentrar aquele lugar vazio, cheirando a mofo, pudesse impactar no que eu estava vivendo, pudesse ofuscar o que o meu presente estava me ofertando. Então, como que para abafar esses pensamentos que estavam me deixando confusa, eu bati de leve na porta que se encontrava entreaberta. Do outro lado (de dentro), ninguém respondeu. Bati novamente. Dessa vez, o som da batida saiu com mais vontade, todavia, escutei somente o eco da minha mão contra a porta se espalhar pelo ambiente. Não hesitante, porém, adentrei o espaço.
Entrando na cabana, senti um cheiro muito intenso de incenso. Ainda recordo-me, a essência era de canela. Dei uma olhada tímida em volta daquele lugar cheio de teias de aranhas e não me senti nada confortável. Era como se eu tivesse numa cena daqueles filmes de terror, em que a vítima é jogada como forma de seqüestro num lugar bem obscuro. Enfim, depois dessa olhada rápida, notei que a cabana se dividia em dois cômodos, se é que se pode assim dizer. Havia uma daquelas cortinas hippies, tipo de artesanato, sabe. Então, ergui minha mão e puxei num ato rápido aquele tecido remendado e avistei um ambiente que mexeu completamente comigo, então, o desconforto se foi, deixando espaço apenas para a familiaridade que senti naquele momento...
Na verdade, era bem esquisito, para não se dizer assustador! Depois que a cortina se foi com o desconforto que me acompanhava até então, eu avistei o “meu” espaço. Sim, era isso mesmo! Havia esse mesmo abajur e essa mesma televisão antiga que você, que está lendo essas palavras agora, pode enxergar de marca d’água dessa página. Além do mais, esses mesmos quadros de parede estavam dispostos dessa mesma forma: acima do abajur sobre a televisão. Que loucura! Que bruxaria era essa, afinal¿ Bem, foi isso que, a princípio, eu também pensei. Mas, não. Não era bruxaria, não era nada demais. Era você, caro leitor, me acompanhando até meu cantinho de escrita, cantinho em que sai e se fica guardado muito do que se passa comigo.
Essa cabana em maio a um bosque cada mais é do que esse espaço em que nos encontramos agora. É o meu canto. Canto que em volta tudo é bonito, a música é perfeita, mas, que, por dentro, é um ninho de confusão, de contradição, de sentimentos, de vida que não se compartilha da porta pra fora. Por isso as teias, os móveis antigos, o incenso recém aceso, o conforto e o desconforto, a vida, a minha vida...
É nesse “cômodo” da cabana “abandonada” que eu queria deixar você agora. É aqui que eu quero que você fique, para que possa entrar em contato com o que me confunde por inteira. É qui que você tem que ficar para me conhecer, para enxergar com precisão o que eu sinto, o que desejo, o que quero viver, o que eu quero de você...
Agora, eu me despeço. Não da cabana, não de você, mas, sim, das minhas e das suas incertezas. Fique à vontade, aproveite o momento. Deixarei a porta entreaberta como quando você entrou. A lasca de tronco amarrada em forma de pilastra estará mais à frente da casa, para que você consiga pegar seu caminho de volta. Não bagunce nada, não mexa nas cinzas do incenso. Apenas “leia” todos os meus sentimentos e os interprete pensando não só em você ou somente em mim, interprete-os pensando em nós dois...

Por Luana Chaves (27/02/12)