quinta-feira, 24 de junho de 2010

Charneca em flor


Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor, Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

F. Espanca

Um comentário:

  1. Ah, Florbela... sempre com lindas citações!

    Eis versos de minha poetisa predileta!

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