segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Falando sobre o amor (de novo)


Pensamentos borboleteando...

O problema de sumir é que, quando a gente volta, tem que explicar o sumiço. E explicar o sumiço dá muito trabalho, você sabe. Às vezes, precisamos de um álibi, enfim. Como hoje estou um pouco cansada, podemos pular essa parte? Faz de conta que continuo sempre vindo aqui, que temos conversado sobre a vida, a faculdade, a dança, as amigas, o vizinho, os professores picaretas. Faz de conta que temos trocado confidências, que o tempo não passou, que o sorriso de hoje é o mesmo de 10 anos atrás, sem nenhuma marquinha na boca, sem nada estranho que lembre que o tempo passa. E como passa! O tempo passa muito, passa rápido, passa rindo da gente...

Meu pensamento fervilha. As idéias dão saltos mortais, estão evaporando! O coração está a mil. As emoções giram no sentido contrário (será?). E aí, eu me pergunto: Será que vou dar conta? Início de semestre, livro embaixo do braço, pessoas novas, dias diferentes e ele... Ele que ainda não saiu da minha cabeça! Parece que abriram uma porta, jogaram-no no espaço mais conflitante de mim, pregado com super bonder na parede que mais pulsa no meu coração e deixaram a chave no meu cérebro, que parece não ter acesso algum ao ele (o coração). Mas é assim mesmo. Nós somos uma família. UMA família! Nós, o início do semestre, as pessoas novas (e velhas, como não?), os conflitos, o cérebro e o coração e ele... Até ele! E todas as nossas outras coisas, nossos restos, nossos começos, meios e fins. Nós e nossas manias, nossos sucessos, nossos fracassos, nossos defeitos que ficam na fronha, nossas qualidades que fazem os olhos ter mais vida.

Eu sofri. Meu Deus! Como eu sofri com amores errados, ilusões, migalhas, coisas que achava que eram e nunca foram, paixonites enlouquecidas, vontades desesperadas. Todo mundo fala sobre o amor. As pessoas amam animais, objetos, pessoas, sorvetes, cervejas... O que era para ser “amor” tornou-se apenas uma palavra. O que era para ser um sentimento se tornou uma “coisa”. Uma simples coisa! Como podem fazer isso com o amor? Olha para mim e me explica. Mas olha mesmo, estou cansada de palavras soltas, ando sedenta por olho no olho. Estou desconfiada... O cabeleireiro novo me chama de amor. Entro na loja e a vendedora diz, sorrindo: "Oi, amada. Posso ajudar?". Não quero ser o amor de quem acabei de conhecer e entreguei meus lindos cabelos. Não quero que a vendedora me olhe e diga: "amada, essa calça ficou linda em você". Desculpe, é que tenho um profundo respeito pelas palavras.

Olhe, eu sou careta! Demorei tanto para sentir o amor. E acho que ainda não o senti... Intenso, verdadeiro! É, deve ser porque ainda não descobri o que ele, afinal de contas, é. Mas também, é lógico que a gente se engana! Alguns sentimentos se “travestem” e a gente crê que eles são amor. Depois, na hora do ‘vamos ver’, a gente descobre o que existia por baixo deles... Surpresa! Não era amor, era apenas uma confusão de sentimentos e vontades ou uma outra coisa qualquer. Não que eu esteja desmerecendo os outros sentimentos, longe de mim. Muitas emoções podem ser lindas (e são). Sentir é muito bom, mas o amor... Esse, que poucos sentem e muitos banalizam, deve ir muito mais além! Você entende? Às vezes, eu não entendo...

Eu posso dizer para você com todas as letras do alfabeto: eu-sofri-muito! E ainda sofro. Hoje acredito que talvez eu sofra porque estou constantemente me procurando. É uma busca incessante... Será que é por que dizem que a gente só encontra o amor depois de se achar? Eu estava em paz, numa vontade de ficar comigo, de ser minha amiga, de fazer dar certo essa relação difícil que existe entre nós e nós mesmos, de cuidar bem de mim, de tomar conta da minha vida do jeito certo. Então, ele apareceu. Não porque se mostrou a mim ou me seduziu, mas porque eu fui até ele. Sim, EU fui! Mostrei-me com todos os defeitos e qualidades, seduzindo aquele homem cobiçado. Não com olhares e gestos (até porque, ele nunca foi capaz de sustentar meu olhar!), mas com palavras. Não quaisquer palavras, mas as palavras que o fizeram sentir-se instigado a me decifrar.

Elas (as palavras), que me seduzem. Elas, que me envolvem. Elas, que me aproximam. Foram as palavras que me aproximaram dele. E foram elas que me conduziram até “o amor da minha vida”. Será? Por que as pessoas usam tanto esse clichê? Será mesmo que esse clichê tem verdade, tem vida? Entre uma palavra e outra, uma inquietação. Entre uma inquietação e outra, a curiosidade. Entre uma curiosidade e outra, um receio. Entre um “será” e outro, um relâmpago chamado coragem. Fui, fui com toda a vontade que tive. Ele veio (ou será que tive um delírio?). Para mim, NÓS fomos! Entre uma conversa e outra, um sentimento. Um sentimento sozinho, com sérios problemas de identidade. Um sentimento meu, só meu...

Ao que se vê, amar tem um quê de desespero, de descontrole, de coragem, de paciência, de cumplicidade, de segredo... Tem uma pitada de muitas coisas! Pra amar, tem que conhecer, se perceber. Tem que doer um pouco. Porque dói, é uma descoberta, é um se ver no outro, é um ver o outro exatamente como ele é (e, ainda assim, amar). Amar é perder o nojo, pois, amando, a gente percebe que o outro é uma pessoa (e as pessoas são sujas de vez em quando). Para amar, tem que ser inteiro. Para amar, a gente dispensa a matemática, por mais que um mais um seja dois. Para amar, o bom português basta. É só abrir o coração e boca e dizer: “eu te amo”. Será? Será que meu sentimento se resume a isso? Ou será que eu é que ainda não consegui sentir o amor?

Por Luana Chaves

(11/10/10)


4 comentários:

  1. "Creio no mundo como num malmequer,
    Porque o vejo. Mas não penso nele
    Porque pensar é não compreender…
    O Mundo não se fez para pensarmos nele
    (Pensar é estar doente dos olhos)
    Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
    Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
    Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
    Mas porque a amo, e amo-a por isso,
    Porque quem ama nunca sabe o que ama
    Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
    Amar é a eterna inocência,
    E a única inocência é não pensar…"
    O Guardador de Rebanhos - II
    Fernando Pessoa

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  2. 'Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
    Amar é a eterna inocência'

    [...]

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  3. Obrigado pela sua visita! Gostei muito do seu blog.

    "Amar é perder o nojo, pois, amando, a gente percebe que o outro é uma pessoa (e as pessoas são sujas de vez em quando)"

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  4. Ameiii
    Me vi nesse texto com todas as palavras escritas elas me gritaram as agonias que senti nos ultimos dias
    E ão me senti sozinha pois eu angustiava as mesmas devalias...

    Continue escrevendo vou seguindo e sabendo que bons textos vale a pena ler e sentir a flor da pele como esse...

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