terça-feira, 9 de agosto de 2011

(DES) medindo a altura do abismo


Terça-feira. Praticamente uma semana para voltar à rotina, ela que eu não gosto, ela que eu preciso para sobreviver... Como num déjà vu, eu vejo tudo acontecer de novo, como a reprise daquela cena da novela em que os olhos ardem, a garganta seca, a lágrima relutante que não se atreve a ultrapassar o conto dos olhos tristonhos...
Ainda recordo-me de como eu era, num passado em que nada era maior que o presente que se vive ou o meu pensamento é que era pequeno demais e eu não compreendia a imensidão que ultrapassava o tempo e espaço? Quer saber? Essa pergunta não fui eu quem respondeu, mais tarde, o tempo se encarregou de seu esclarecimento, sim, foi ele.
Como já dizia Zeca Baleiro, o meu chamado marido musical: “beibe, você não precisa de um salão de beleza, pois, sua beleza é bem maior do que qualquer beleza de qualquer salão”. Era bem assim que eu me enxergava através do reflexo no espelho, quando eu não me importava com o meu cabelo, quando eu não ligava para as minhas unhas pretas descascadas ou pintadas de vermelho berrante, quando eu fazia questão de reforçar o cajal preto sobre o contorno dos olhos desafiadores, quando eu me vestia de calças largadas, quando me chamavam de magrela...
A bem da verdade, é que eu não me importava com nada disso. Eu me amava demais e isso fazia com que eu não me importasse com nenhuma palavra que fugia ao pensamento daquilo que as pessoas direcionavam à minha pessoa. Apesar de ser muito crítica, eu não ligava para elas quando expressavam aquilo que poderia se referir a mim. Está certo, eu nunca tive muita paciência, muito menos para ouvir críticas!
O tempo passa e, como eu já falei isso aqui uma vez, ele passa depressa, passa rindo da gente! Todavia, em meu pensamento, ainda consigo resgatar situações passadas que me remete à pessoa que eu fui um dia. Aquela garotinha valente, possuidora de uma coragem e ousadia que, hoje, se resume a medo, insegurança e personalidade, o que, graças a Deus, nunca me faltou! Ainda assim, em meio a essas fagulhas, eu ainda consigo entrar em contato com essa garota de vez em quando...
O fato é que eu não me importava em nada com as conseqüências, simplesmente agia. Não que minha impulsividade tenho ido pro pau, mas, no passado, eu não media a altura do tombo, não importava onde cairia, se no gramado, no concreto, ao mar... Eu sentia intensamente, sem medo nem culpa, amava quantas vezes fosse possível, sofria quantas vezes fosse necessário para esquecer!
Ninguém vive de sensações, emoções, sentimentos, se não tiver alguém para partilhar tais vivências. Pessoas maravilhosas fizeram e ainda fazem parte da minha vida, pessoas surpreendentes desfrutaram comigo um amor que eu jamais juraria sentir. E foram exatamente essas pessoas que cruzaram o meu caminho, que compartilharam comigo momentos inesquecíveis, que me fizeram, também, dosar a minha ousadia, frear a minha coragem e medir a altura do abismo antes de me jogar a fim de viver a sensação da queda livre...
E foi assim que eu aprendi a desviar, na medida do possível, meu caminho das “ciladas”. Durante muitos anos, esse foi o mecanismo de defesa que eu me utilizei para sobreviver às armadilhas do destino. Entretanto, um dia, cansada desse ciclo vicioso, experimentei agir como no passado, sem filtro nem freio nem receio e me vi, de surpresa, diante das mesmas frustrações e erros cometidos há cinco, sete anos atrás.
O que fica para mim disso tudo, é que não importa em que época viveremos, o fato é que, se não tivermos coragem e ousadia para vivermos nossos momentos em verdade e intensidade, nossos medos e covardias passarão à frente de nossos relacionamentos e viveremos de relações vazias, sem grandes emoções, pois, sempre teremos o receio em arriscar, o medo de nos frustrarmos...
Eu não sei você que, por ventura esteja lendo essas palavras, mas, eu não quero viver numa vida de aparências, eu quero continuar a ser intensa, mesmo que eu me frustre em expectativas; eu quero continuar me jogando, sem me preocupar com a altura do tombo nem por sobre onde cairei; eu quero continuar amando uma, duas, três pessoas, mesmo que eu procure em cada uma delas a mesma pessoa que um dia eu não fui capaz de conquistar, mas, que, ainda aquece meu coração.
É isso aí mesmo, eu pretendo manter-me como sou, resgatando muito do que fui. Eu quero continuar a ser essa sagitariana, que age por impulso, que gosta ou desgosta no ato, que é sincera ao que sente e expressa. E, apesar dos desequilíbrios, ainda quero continuar a ser essa criatura que, com essa essência fogo, sente no toque, sente à flor da pele, sente no olhar, sente de corpo e alma...
Por Luana Chaves (09/08/11)


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